Infraestruturas, narrativas e imaginários algorítmicos: Tecnografando o preço dinâmico da Uber
Resumo
Esta dissertação tem por objetivo tecnografar as agências algorítmicas atreladas ao preço dinâmico da Uber a partir das dimensões retórica/narrativa, material/infraestrutural e afetiva/imaginária que o constituem. Mais especificamente, interessa-nos investigar tais agências a partir dos modos como elas produzem e afetam formas de gerir e experienciar o trabalho. Orientados pela noção foucaultiana de “dispositivo”, articulamos um olhar disposicional que considera as agências algorítmicas em sua integração a uma rede heterogênea e dinâmica composta por atores variados. Buscamos compreender as relações de poder e campos de saber que permeiam essas agências, considerando tanto o que a Uber declara sobre os algoritmos, quanto as percepções daqueles que têm suas experiências de trabalho atravessada por eles: os motoristas Uber. Através da tecnografia, operacionalizamos esse olhar disposicional explorando inscrições que materializam o preço dinâmico e as agências algorítmicas, ancorando-os em práticas situadas. Nesse movimento, buscamos compreender quando, e em quais circunstâncias, os algoritmos emergem como uma agência decisiva nas práticas e discursos que organizam o trabalho dos motoristas. Esta pesquisa se baseia prioritariamente em contribuições teóricas e metodológicas vinculadas aos Estudos de Plataforma e aos Estudos Críticos de Algoritmos, em especial àquelas que se aproximam dos estudos de comunicação e mídia. A partir deste referencial, propomos uma conceituação sobre algoritmos e poder algorítmico que informa o restante do trabalho. A análise da dimensão retórica/narrativa do preço dinâmico revelou a articulação da promessa de objetividade dos algoritmos a um ideal de mercado autorregulado. A exploração da dimensão material/infraestrutural examinou os esforços de desenvolvimento tecnológico da Uber que subsidiam a operacionalização do preço dinâmico por meio da datificação de territórios e à antecipação de dinâmicas futuras. Já a dimensão afetiva/imaginária enfatiza as percepções e experiências dos motoristas em seus encontros cotidianos com o preço dinâmico, bem como os afetos, estratégias e saberes que emergem nestes encontros. Finalmente, nas considerações finais, alinhavamos essas três frentes de análise à luz do olhar disposicional e fornecemos alguns apontamentos sobre as precariedades e incertezas que marcam o trabalho algorítmico.